sábado, 14 de abril de 2012

Falar é Difícil

Segundo os cronistas, “falar é fácil”. É fácil, porque os humoristas e cronistas, quando escrevem, têm, na maior parte das vezes, o rabinho sentado no sofá e estão fechados em casa (os que ainda tiverem casa, que isto da crise está mau). Bom, enquanto “cronista”, quando escrevo e estou sozinho em casa, ou a única vez em que tenho que mexer um dedo é para mudar o canal de televisão, falar não é nada complicado; mas, quando saio à rua, sinto-me como um judeu na Alemanha durante a 2ª Guerra Mundial, e, nessas situações, o humor pode ir passear e o melhor é ficar caladinho. Caso contrário, aparece a autoridade a berrar “Com que então, andas a falar mal de Sicrano? Se Beltrano sabe, estás feito ao bife!”, cuspindo-me para a cara, como fazem os alemães sempre que falam.
Nesses casos, aparece o tenebroso Nervosismo, que nos impede de falar, que nos torna suas marionetas e faz tudo o que quer e lhe apetece. É mais ou menos como aquelas sogras que vêm “passar umas férias” a vossa casa, mas quem acaba no fim por ir embora são vocês.
Ah, pois! Origina tremeliques, calor, e, ao mesmo tempo, frio, dores de barriga e, claro, o clássico “xixi na calça” (também conhecido como “o que o bebé e o velhinho têm em comum, para além da falta de dentes”). Senão, vejam como exemplo um orador, que tem de falar para centenas ou até milhares de pessoas! Para se ser orador, tem que se ter mais coragem que um animal de estimação de uma celebridade! Aliás, quem nunca teve aquele sonho de que estava a falar para uma multidão e, quando reparava, estava nu? (Eu, porque sou um autêntico Adónis, e, logo, falar despido não me incomoda… Bem, talvez um pouco, se estiver frio) Isto leva a que muitas pessoas com pouco à-vontade desistam, o que não devia acontecer, porque fizeram a malta perder uma tarde de futebol (involuntariamente, pois, tanto quanto sei, quando há futebol ou algo com gajas boas, nenhum homem que se preze quer ir assistir a palestras).
Outra figura que adora fazer-nos corar é a Vergonha. O medo de nos envergonharmos impede-nos de fazer muita coisa: pedir alguém em casamento, falar com alguém desconhecido num bar, pedir um carro novo aos pais, andar a coxear sem bengala,… Para alguns que não perceberam o último, se repararem, com bengala ou sem ela, uma pessoa magoada coxeia; mas, mesmo assim, gasta-se um dinheirão num bocado de madeira! Para quê? Para não se ouvir bocas do género: “ Foi uma longa noite, ãh?” ou “Embebedaste-te outra vez e fizeste asneira, foi?”. O mesmo se passa com as muletas! Já viram alguma pessoa gozar com alguém de muletas? Não, porque o ar de fragilidade funciona como “escudo anti-bocas”. Falar mal dessas pessoas é difícil. Ou seja, quanto a isso somos todos uns coxos.
Concluindo, e resumindo tudo o que atrás se afirmou, para muitos, falar é complicado, mas, para alguns, falar é fácil. Ou seja, ficámos na mesma e este texto não enriquece em nada o assunto. Tal como tudo o resto que escrevo. Mas, tal como falar, calar-me também é difícil… Ouviram, Sicrano e Beltrano (que, não sei porquê, ainda estão a ler isto)?

Sem comentários:

Enviar um comentário